OS MISTÉRIOS DO SANGUE
No livro Sacre Pleasure – Sex, Myth and  Polítics of the Body (HarperCollins, 1995), Riane Eisler nos relata que  os pigmeus BaMbuti, da floresta do Congo, referem-se à menstruação como  "ser abençoada pela Lua". Não há, naquela cultura, nada de aparentemente  negativo associado ao período da menstruação. 
O primeiro sangue  menstrual é comemorado com uma festa chamada "elima", que envolve toda a  aldeia. Após sua primeira menstruação, ser novamente abençoada pela lua  no futuro é simplesmente visto como parte natural da vida da mulher, e  não há nenhuma celebração posterior associada a isso. Não existem tabus  ligados ao período menstrual e isso, talvez, represente bem a antiga  mentalidade não-judaico-cristã.
O fluxo de sangue e seu cessar  estão ambos intimamente ligados aos Mistérios Femininos. Menstruação,  gravidez, parto e menopausa são aspectos do ciclo vital de todas as  mulheres. O sangue, ou sua ausência, assinala naturalmente os estágios  de transformação de uma mulher, desde a ruptura do hímen ao sangue do  parto, ao fim dos sangramentos na menopausa. Em tempos remotos, o modo  como uma mulher usava sua guirlanda era um sinal externo de qual estágio  de sua vida ela já havia alcançado.
Em Blood Relations –  Menstruation and the Origins of Culture, Knight nos conta que os  primitivos humanos que habitavam as florestas, dormiam na copa das  árvores sob o céu noturno. Os ciclos de luz da lua apropriadamente  influenciavam os ciclos menstruais. A pesquisa de Knight indica que, na  maioria das mulheres, o ciclo menstrual começa durante a lua nova e ela  ovula por volta da lua cheia. Luisa Francia, em seu libro Dragon Time –  Magic and Mystery of Menstruation (Ash Tree, 1991), também afirma que as  mulheres que vivem e dormem ao ar livre (longe das luzes artificiais)  estão sintonizadas a esse ciclo.
Knight apresenta algumas interessantes  descobertas da biologia feminina. Um estudo sobre a duração de 270.000  ciclos de mulheres, representando todas as idades da vida reprodutiva,  revelou o seguinte: a mais alta percentagem simples das mulheres do  estudo, menstruaram durante a lua nova. A segunda percentagem mais alta,  menstruou durante a lua crescente e apenas 11,5% menstruou durante a  lua cheia. Essa pesquisa também indica que a maioria das mulheres  mostraram um ciclo menstrual de 29,5 dias. Esse ciclo apresentou-se  também como o mais fértil. O estudo ainda trouxe à descoberta de que  mulheres heterossexuais que praticavam sexo com regularidade semanal,  possuíam ciclo mais intimamente ligado ao ciclo da lua do que mulheres  cuja vida sexual era de natureza esporádica ou celibatária. O estudo  também indicou que os feromônios masculinos podem estar envolvidos no  alinhamento do ciclo menstrual ao chamado ciclo "normal" que se inicia  com a lua nova.
Nos Mistérios Femininos, vemos que o sangue  menstrual era mais do que o indicador do ciclo de fertilidade de uma  mulher. A vagina era vista como um portal mágico através do qual a vida  surgia de uma misteriosa fonte interna. Na religião matrifocal, era um  portal tanto para a regeneração física como para a transformação  espiritual. As mulheres estão mais sintonizadas à sua natureza psíquica  durante a menstruação. Uma vez que o fluxo de sangue menstrual tende a  absorver energia, as mulheres estão mais aptas a curar os outros durante  esse período. Assim, mulheres em menstruação podem absorver a energia  dos outros e aterrá-la através de seu próprio sangramnto físico. Uma vez  que o sangue é lançado à terra, a energia é neutralizada e a cura pode  ter início na pessoa adoentada.
O sangue menstrual era, também, utilizado  para fertilizar as sementes para o plantio, passando a essência da vida a  elas. Campos eram, por vezes, borrifados com uma mistura de água e  sangue menstrual para estimular o crescimento. As sementes e plantas  absorviam um pouco da energia antes que o solo neutralizasse a carga.  Xamãs femininos também transferiam cargas mágicas aos campos cultivados  através do sangue menstrual, criados para influenciar a mente grupal da  comunidade que se alimentaria da colheita. Durante a Idade Média, as  bruxas eram constantemente acusadas de enfeitiçar as plantações...
Outra  função do sangue menstrual, era a de ungir os mortos. Acreditava-se que  isso asseguraria seu renascimento, graças às propriedades vitalizantes  do sangue que jorrava do próprio portal da vida. Durante o Neolítico e o  início da Idade do Bronze, na Antiga Europa, a região do Egeu  testemunhou a criação de tumbas redondas com pequenas aberturas voltadas  para o leste, na direção do sol nascente. Essas tumbas representavam o  ventre da Deusa, e a abertura era a sua vagina. Vasos sagrados eram  utilizados para coletar o sangue menstrual para ungir os mortos. Eram  vasos da fertilidade, luz e transformação. Os mortos eram ungidos com  sangue menstrual e posicionados no interior das tumbas. A luz do sol  nascente simbolizava a renovação e a regeneração, enquanto penetrava na  abertura da tumba (o falo solar penetrando a vagina telúrica).  Posteriormente, essas tumbas terrenas evoluíram na forma de montes,  remanescentes do Culto ao Mortos.
Em Sacred Pleasure, Riane  Eisler relata como os ritos e cerimônias funerários pré-históricos  incluíam atos sexuais. Tais atos visavam conectar a tumba à energia da  procriação. Símbolos espirais eram constantemente gravados em tumbas  neolíticas como sinais da regeneração. Também simbolizavam a  transformação xamânica da consciência que empregava cogumelos  alucinógenos.
Os cogumelos têm fama de afrodisíacos e sua  semelhança com a genitália masculina ficava certamente evidente aos  primitivos europeus. A rapidez com que os cogumelos crescem e  desaparecem também contribuiu para sua associação com o falo. Assim,  podemos facilmente associar as danças extáticas com os ritos funerários  da magia do sangue.
Nos Ensinamentos Misteriosos, a magia do  sangue está ligada às fases da lua. A lua cheia inicia a ovulação e  simboliza os poderes de transformação da energia lunar (e, por  conseqüência, da energia feminina). Por seu aspecto fértil no ciclo de  uma mulher, a lua cheia é o período da mãe. Durante essa fase, é melhor  formular e visualizar o que quer que seja desejável na vida de um  indivíduo. As imagens mágicas lançam raízes durante essa fase, e o  sangue é carregado com quaisquer formas de pensamentos que direcionamos a  ele. A lua minguante põe em movimento o que foi concebido durante a lua  cheia, para que se manifeste. É um período para estabelecer as conexões  com o mundo físico, que irão auxiliar o fluxo de energia relacionada  rumo aos desejos do indivíduo. A lua nova libera o sangue carregado do  caldeirão mágico do ventre. A energia mágica é, então, usada e é tempo  para reflexão e introspecção. A lua crescente é um período de  potencialização, de leitura e estudos, preparando o solo fértil do  ventre para a semente mágica que será plantada na lua cheia.
É...
ResponderExcluirParece que fomos "involuindo" durante o decorrer dos anos!
Tanto conhecimento simples perdido.
O sangue é fonte da vida e não deve ser esquecida sua importância.
beijinhos